Tese do branqueamento
Fonte: http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historiadobrasil/tese-branqueamento.htm
Acima, quadro de Modesto Brocos y Gómez intitulado “A Redenção de Cam”, 1895
A tese do branqueamento teve grande repercussão no Brasil, no início do século XX, entre intelectuais, como João Baptista de Lacerda.
Publicado por: Cláudio Fernandes em História do BrasilAcima, quadro de Modesto Brocos y Gómez intitulado “A Redenção de Cam”, 1895
Entre a segunda metade do século XIX e a primeira metade do século XX, vigoraram em várias partes do globo as teses eugenistas, isto
é, teses que defendiam um padrão genético superior para a “raça”
humana. Tais teses defendiam a ideia de que o homem branco europeu tinha
o padrão da melhor saúde, da maior beleza e da maior competência
civilizacional em comparação às demais “raças”, como a “amarela”
(asiáticos), a “vermelha” (povos indígenas) e a negra (africana).
Nesse período, alguns intelectuais
brasileiros incorporaram essas teses e delas derivaram outra, por sua
vez, “aplicável ao contexto do Continente Americano: a “tese do branqueamento.”
A defesa do branqueamento, ou do “embranquecimento”, tinha como ponto
de partida o fato de que, dada a realidade do processo de miscigenação
na história brasileira, os descendentes de negros passariam a ficar
progressivamente mais brancos a cada nova prole gerada.
O antropólogo e médico carioca João Baptista de Lacerda
foi um dos principais expoentes da tese do embranquecimento entre os
brasileiros, tendo participado, em 1911, do Congresso Universal das
Raças, em Paris. Esse congresso reuniu intelectuais do mundo todo para
debater o tema do racialismo e da relação das raças com o progresso das
civilizações (temas de interesse corrente à época). Baptista levou ao
evento o artigo “Sur les métis au Brésil” (Sobre os mestiços do
Brasil, em português), em que defendia o fator da miscigenação como
algo positivo, no caso brasileiro, por conta da sobreposição dos traços
da raça branca sobre as outras, a negra e a indígena.
Em um trecho do referido artigo, Baptista afirma: “A
população mista do Brasil deverá ter pois, no intervalo de um século,
um aspecto bem diferente do atual. As correntes de imigração europeia,
aumentando a cada dia mais o elemento branco desta população, acabarão,
depois de certo tempo, por sufocar os elementos nos quais poderia
persistir ainda alguns traços do negro.” Percebe-se nitidamente nesse trecho o teor do anseio pelo branqueamento.
As correntes intelectuais que
influenciavam o pensamento de Baptista e de outros defensores do
eugenismo eram variadas e iam desde o determinismo de Henry Thomas Buckle e o darwinismo social de Spencer às teorias de Gobineau. Todas essas correntes, em grande parte, serviram como argumento para justificar a fase do Neocolonialismo, que se incidiu sobre os continentes africano e asiático.
Um fator curioso da apresentação de
Baptista no Congresso Universal das Raças foi a exibição de uma cópia do
quadro “A Redenção de Cam” (ver imagem no topo do texto), do pintor
espanhol Modesto Brocos. Esse quadro foi concluído em
1895 e apresenta a imagem de uma família: à esquerda, uma senhora negra
olhando para os céus em gesto de agradecimento e uma mulher mestiça
segurando uma criança branca; à direita, um homem branco observando a
esposa e o filho.
A imagem do quadro transmite
categoricamente a tese que Baptista defendia: o embranquecimento através
das gerações. Brocos propõe a diluição da cor negra na sucessão de
descendentes e insere nessa sucessão a “redenção”, a “absolvição” de uma
“raça amaldiçoada”, isto é, a descendência de Cam, filho de Nóe, que, no livro do Gênesis,
é amaldiçoado pelo pai. A história de Cam, a despeito de seu simbolismo
bíblico, foi interpretada à revelia pelo racialismo do século XIX, no
qual Brocos estava envolto. O “escurecimento” dos descendentes de Cam
teria desembocado na raça negra africana, que poderia ser redimida por
meio da mistura com a raça branca europeia.
A tese do branqueamento ainda ganhou argumentos por parte de outros intelectuais de peso do Brasil, como Oliveira Vianna.
As teses racialistas, de modo geral, só foram desacreditadas, de fato,
após a Segunda Guerra Mundial, sobretudo por meio de congressos
fomentados por organismos internacionais, como a ONU (Organização das Nações Unidas).
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